Deputada Lucinha (PSD) — Foto: Divulgação Alerj
Promotores do Ministério Público do Rio de Janeiro e policiais federais encontraram e apreenderam duas armas e R$ 148 mil em dinheiro na casa da deputada Lucinha (PSD), nesta segunda-feira (18).
A parlamentar foi afastada do cargo por tempo indeterminado pela Justiça do Rio por suspeita de ligação com a milícia de Luis Antônio da Silva Braga, o Zinho, uma das mais poderosas e violentas do Rio.
Segundo as investigações, Lucinha é considerada o braço político da milícia que atua na região de Campo Grande e Santa Cruz, na Zona Oeste da capital fluminense.
A Operação Batismo, da Polícia Federal (PF) e da Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), cumpriu mandados de busca e apreensão na casa e no gabinete da deputada, na Alerj.
Além da apreensão das armas e do dinheiro na casa de Lucinha, os agentes também apreenderam pen drives, notebooks e documentos em seu gabinete.
A parlamentar foi ouvida e liberada pelos policiais. Lucinha só não foi presa nesta segunda-feira por ser deputada, visto que a lei garante que parlamentares só podem ser presos por crime flagrante e inafiançável.
Mais cedo, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou o afastamento do cargo, por tempo indeterminado, da deputada estadual Lúcia Helena Pinto de Barros, a Lucinha, do PSD.
De acordo com a força-tarefa, Lucinha é chamada de “madrinha” pelos paramilitares de Zinho, que está foragido acusado de vários crimes.
A Justiça expediu 8 mandados de busca e apreensão contra a deputada. Entre os endereços estão o gabinete de Lucinha na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), no Centro do Rio, e na casa dela, em Campo Grande. Outro alvo de buscas nesta segunda é Ariane de Afonso Lima, uma de suas funcionárias.
Além de afastá-la do mandato, a Justiça proibiu Lucinha de frequentar as sedes da Alerj — tanto o Palácio Tiradentes quanto o novo prédio da Casa, o Alerjão.
O que dizem os envolvidos
O g1 tenta contato com a deputada.
Em nota no meio da manhã, a Alerj informou que ainda não tinha recebido o comunicado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro sobre a deputada Lucinha. “Assim que for informada, oficialmente, a Casa tomará as providências cabíveis com base na decisão judicial.”
“Desejo que a deputada consiga esclarecer no seu juízo probatório a inocência dela. Eu acho que a ampla defesa, o contraditório, tem que prevalecer sempre”, disse o presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar (PL).
“A acusação é muito séria, porque a gente está num combate muito forte com a segurança pública, que está caótica no Rio. A gente está tentando melhorar em esforços conjuntos, não só a Assembleia Legislativa, como também o governador do estado [Cláudio Castro]”, emendou.
O PSD informou, em nota, que “a Constituição Federal garante o direito à ampla defesa, ao contraditório e à presunção de inocência”.
“Nos últimos anos vários foram os casos em que o prejulgamento causou enormes danos aos envolvidos em investigações. Assim, o partido aguardará acesso aos autos para emitir posicionamentos adicionais. O PSD reitera seu compromisso com a ética e a transparência em todas as esferas.”
PF e MPRJ cumprem mandado na casa de Lucinha, em Campo Grande — Foto: Reprodução/TV Globo
O que dizem as investigações
A ação desta segunda-feira é um desdobramento da Operação Dinastia, deflagrada pela PF em agosto de 2022, para tentar prender Zinho e 22 de seus comparsas por uma “matança generalizada” na guerra entre facções. Oito foram presos.
As investigações começaram em 2021 no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ), que apurava o assassinato de um policial por parte de milicianos ligados ao Bonde do Zinho.
Com o avanço das investigações, houve compartilhamento de dados por parte do Ministério Público e pedido de abertura de inquérito à PF para aprofundar as conexões criminosas praticadas pela milícia.
Segundo apuração da TV Globo com fontes do MPRJ e da polícia, quebras de sigilos telefônicos e telemáticos de suspeitos revelaram o envolvimento da deputada Lucinha e de uma assessora dela com a cúpula da milícia do Zinho.
Os indícios mais graves levantados, segundo promotores e policiais, contra a deputada estadual:
- suspeita de interferência na segurança pública do Rio para a soltura de milicianos presos em flagrante;
- tentativa de mudança no comando do batalhão da PM em Santa Cruz, área sob domínio do Zinho;
- vazamento de informações sobre operações policiais para captura de milicianos;
- suspeita de atuação política para favorecer o transporte público de vans sob comando da milícia, na Zona Oeste.