O presidente Lula e o presidente eleito da Argentina, Javier Milei — Foto: Fátima Meira/Futura Press/Estadão Conteúdo; Agustin Marcarian/Reuters
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não irá a Buenos Aires para acompanhar a posse do novo presidente da Argentina, Javier Milei, no próximo domingo (10). Em seu lugar, é esperada a ida do ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, que chefiará a delegação do Brasil. Nem mesmo uma chamada “ESCAV”, o escalão avançado que chega à cidade dias antes e tem um staff maior, será enviada à capital argentina.
O anúncio oficial ainda não aconteceu, mas não foi por acaso. Gestos e até mesmo a espera deles são calculados na diplomacia. No fim de novembro, a futura chanceler argentina, Diana Mondino, visitou o Brasil e conversou por três horas com o chanceler Mauro Vieira. No encontro, entregou uma carta de Javier Milei a Lula, com o convite para a posse e uma proposta de cooperação entre os países da América do Sul.
Nos bastidores, ninguém escondeu que foi uma surpresa positiva o encontro entre os chanceleres. Na semana passada, Milei também anunciou que manterá o peronista Daniel Scioli como embaixador no Brasil.
Diante das ações do novo presidente da Argentina, a expectativa de uma resposta veio. Mas o tão chamado “gesto” de Milei a Lula revelou diferentes interpretações e avaliações por parte dos dois governos brasileiro e argentino. Na avaliação de fontes ligadas à Casa Rosada, Milei começa um governo com demandas internas urgentes. O presidente eleito quer apresentar ao Congresso um “pacote de choque” na economia, que inclui reformas em leis trabalhistas e tributárias, privatização de empresas estatais e outras mudanças.
“O que Milei menos quer é ter, neste momento, problemas externos. É manter como se está enquanto foca na aprovação do pacote e garante sua governabilidade”, contou uma fonte argentina em reservado.
A permanência de Scioli na embaixada da Argentina no Brasil também foi resultado de um esforço político do embaixador. A construção aconteceu através de sua relação com Guillermo Francos, escolhido ministro do Interior de Javier Milei. Francos trabalhou com Daniel Scioli quando este era governador da Província de Buenos Aires.
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Diante dos elementos, o governo brasileiro seguiu com cautela na interpretação dos movimentos de Milei. E decidiu, como uma retribuição ao gesto argentino, enviar Mauro Vieira para a posse do novo presidente, em Buenos Aires. Lula também não esconde o incômodo com as declarações ofensivas de Milei sobre Lula durante a campanha, além da relação do presidente eleito com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que quer ir à posse acompanhado de correligionários e políticos aliados.
A crença do governo brasileiro é de que o pragmatismo e os fatores internacionais e domésticos vão falar mais alto e modular a relação entre os dois países. Mesmo assim, Lula segue de olho nos futuros movimentos de Javier Milei, a partir de sua posse no dia 10 de dezembro.