O julgamento de Giovanni Quintella Bezerra, o médico gravado estuprando uma mãe, na sala de parto, em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, começa a partir do dia 12 de dezembro, exatos cinco meses depois da prisão em flagrante do médico no Hospital da Mulher, na Baixada Fluminense.
É na cadeia que Giovanni aguarda julgamento. Ele está preso em uma cela individual do pavilhão 8 de Bangu, destinado a detentos com curso superior. E isolado por causa de ameaças.
O Fantástico teve acesso aos trechos inéditos do vídeo usado como prova para a prisão em flagrante do anestesista. As cenas mostram que Giovanni colocou em risco a vida da paciente para ter a oportunidade de abusar dela.
As imagens foram registradas por um celular, estrategicamente escondido num armário dentro da sala de parto. Mas a defesa de Giovanni alegou que a captação foi ilegal, porque foi produzida sem conhecimento dos envolvidos e sem autorização da Polícia ou do Ministério Público.
A Justiça não aceitou o argumento. E afirmou que crimes dessa natureza quase sempre são cometidos às escondidas, tendo, geralmente, como única prova a palavra da vítima, que, naquele caso, se encontrava sedada, sem qualquer possibilidade de reação ou de prestar depoimento sobre o ocorrido. E reforçou que a captação foi feita por profissionais de saúde, que, naquela circunstância, tinham o dever de proteger a gestante.
O Fantástico também teve acesso com exclusividade ao vídeo de uma 1h36 minutos de duração e ao laudo da perícia.
De acordo com o inquérito, Giovanni fez sete aplicações de sedativos na vítima. Os peritos dizem que a quantidade de anestésicos extrapolou o que é habitualmente utilizado em uma cesariana.
Na sequência do vídeo, alarmes sonoros começam a disparar. De acordo com a perícia, os alarmes são do monitor multiparâmetro, que podem corresponder à queda de saturação de oxigênio da paciente, porque, além da sedação e da falta de máscara de oxigênio, Giovanni ainda obstruiu as vias aéreas da vítima . O barulho do alarme chama a atenção dos médicos que estão ali do lado.
O anestesista desativa o sinal sonoro, enquanto continua o estupro. O abuso dura aproximadamente dez minutos.
A Defensoria Pública não quis se pronunciar sobre o julgamento, mas, segundo informações conseguidas pelo Fantástico, a defesa pediu à Justiça que Giovanni aguardasse o julgamento em liberdade, alegando que ele é réu primário, tem endereço fixo e não oferece risco à ordem pública.
A Justiça negou e afirmou que a liberdade de Giovanni oferece sim risco não só à ordem pública, à vítima e às testemunhas. A defesa ainda pediu um teste de sanidade argumentando que o médico tem histórico de quadro de transtorno psicológico na família e estava usando medicamentos que aumentam a libido, o desejo sexual.
A audiência de instrução e julgamento pode durar no máximo 60 dias. Primeiro, serão ouvidos a vítima e seu marido. Depois, as oito testemunhas de acusação. E, em seguida, as oito testemunhas de defesa. Na sequência, abre-se espaço para esclarecimentos da perícia. E, por último, o depoimento de Giovani, que vai participar da audiência por videoconferência para evitar que sua presença intimide a vítima ou as testemunhas, também por questões de segurança. Ele vai responder por estupro de vulnerável.