O caso da jovem de 18 anos do Rio que engravidou naturalmente de cinco bebês viralizou nas redes sociais e chamou a atenção pela raridade. Segundo médicos, a chance de ganhar na loteria é maior do que ter uma gravidez natural de quíntuplos.
? A explicação está num evento excepcional: para que uma gravidez de gêmeos ocorra, em vez de ter apenas um óvulo por ciclo menstrual, a mulher precisa produzir mais de um (ou quando o óvulo se divide em outros).
? Na Mega-Sena, uma aposta simples, com seis dezenas, tem uma chance em cada 50.063.860 de ser a vencedora, segundo a Caixa. No caso da gravidez, a estimativa é de que apenas um parto a cada 60 milhões seja de quíntuplos.
Como é a fecundação
Para entender como isso acontece, é preciso saber o que ocorre no corpo feminino até a gravidez:
- Durante o ciclo menstrual, a mulher desenvolve os folículos ovarianos.
- Ao longo do ciclo, um deles se torna dominante e cresce podendo chegar a até três centímetros.
- Dentro desse folículo, existe um óvulo que, no 14° dia do ciclo, em geral, chega a tuba, que é onde ele vai encontrar o espermatozoide.
?? O natural é que a mulher tenha apenas um óvulo, mas a gravidez múltipla acontece quando, por uma raridade, a mulher produz mais de um e eles são fecundados.
Isso pode ocorrer quando há estímulo, por exemplo, em casos de fertilização. Mas, naturalmente, como no caso da jovem Sara Campos da Silva, é uma raridade.
O médico, que atende no Hospital das Clínicas da USP e também pela Beneficência Portuguesa, diz que, no hospital, nunca atendeu casos de quíntuplos.
?? Uma outra explicação possível para a gestação de gêmeos, segundo Mariana Osiro, ginecologista e obstetra pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é que a mulher produza apenas um óvulo, mas que ele se divida.
“É comum isso ocorrer em caso gemelar, mas, nesse volume de bebês, é muito difícil. Raríssimo que o óvulo se parta em cinco”, explica Mariana Osiro.
?? A herança genética é, sim, um fator que contribui para a gestação de gêmeos. Segundo os especialistas, se existem casos na família, há chances de que isso se prolongue ao longo das gerações seguintes.
No caso de Sara, por exemplo, o pai dos bebês tem vários casos na família. Apesar disso, os médicos explicam que é difícil que esse tenha sido o determinante para o caso múltiplo, porque o fator predominante é da mãe - já que é preciso que, por uma influência genética, ela produza mais de um óvulo ou que tenha facilidade para que eles se dividam.
Casos de gêmeos quíntuplos não são frequentes
O caso de Sarah não é o único recente que gerou repercussão nas mídias sociais. Nos últimos anos, Mariana Mazzeli ganhou as redes com os quíntuplos no Espírito Santo, em 2019. E em São Paulo, Yanike Piera, deu à luz cinco bebês no ano passado.
Família do ES com quíntuplos — Foto: Arquivo pessoal
Segundo os médicos, os casos ganham repercussão, justamente, pela raridade. O obstetra Enoch Barreto, coordenador da Maternidade De Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista, tem 20 anos de carreira e fez parto de quíntuplos uma única vez, em 2022, com o caso de Yanike.
A mãe já tinha dois filhos e engravidou uma terceira vez, mas descobriu que eram quíntuplos. No caso dela, também não houve tratamento e a gravidez múltipla foi natural.
“Foi também um caso raro na medicina. A chance disso acontecer é de um caso para 1,7 milhão de gestações. É um número muito baixo”, explica.
O médico explica ainda que não há como prever a chance de uma gestação gemelar. Apesar de ser possível identificar a ovulação da mulher pelo ultrassom transvaginal – um exame que dá a visão detalhada dos órgãos reprodutivos femininos – não há como garantir que a produção de mais de um óvulo seja cíclica. Ou seja, se repete em todos os ciclos e em quais quantidades.
“Não tem como dizer se uma mãe vai ou não ter gêmeos se a gravidez é natural. Ainda que identificassem mais de um óvulo em um ciclo, isso poderia ser o acaso. O que a gente pode afirmar é que as mulheres que querem engravidar no futuro podem acalmar o coração porque isso é muito difícil de acontecer”, explica.