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Título da NotíciaAdvogados de acusado de matar e enterrar corpo de mulher em Barretos apresentam laudo de 'insanidade mental

Publicada em 23/10/2023 às 15:03h - 47 visualizações

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Por Flávia Santucci, g1 Ribeirão Preto e Franca

 

Suspeito de assassinar Nilza Costa Pingoud vivia nos fundos da casa da vítima — Foto: Montagem/g1

Suspeito de assassinar Nilza Costa Pingoud vivia nos fundos da casa da vítima — Foto: Montagem/g1

Um laudo médico apresentado pelos advogados de Leonardo Silva, de 18 anos, acusado de matar e enterrar o corpo de Nilza Costa Pingoud, de 62 anos, no quintal da casa dela, aponta "insanidade mental" do suspeito. O documento foi assinado pelo psiquiatra forense Hewdy Lobo Ribeiro e uma equipe de psicólogos, que foram contratados pela defesa de Leonardo.

O pedido do laudo não havia partido da Justiça, mas, sim, da defesa do acusado. O objetivo dos advogados é que o documento contribua para a análise do processo judicial. A Justiça ainda não decidiu se aceitará ou não o laudo.

Caso aceite o laudo, o processo com a acusação de latrocínio pode ser suspenso e uma perícia oficial e independente sobre a saúde mental do acusado, sem ser a contratada pela defesa, pode ser solicitada pela Justiça (entenda mais abaixo o que pode acontecer). Só depois disso viria uma eventual condenação.

O julgamento de Leonardo está marcado para 15 de dezembro e deverá ficar a cargo do juiz Luciano de Oliveira Silva. O crime aconteceu em julho deste ano, em Barretos, interior de São Paulo.

Ao g1, o advogado Luiz Gustavo Vicente Penna, que defende Leonardo, explicou que recorreu a uma equipe de especialistas para tentar provar que o acusado não estava em plenas faculdades mentais quando matou Nilza.

Além de Leonardo, a equipes médica também falou com a mãe dele.

O laudo da equipe contratada pela defesa apontou que o acusado apresenta:

 

  • Transtorno de Personalidade Esquizoide
  • Transtorno de Personalidade com Instabilidade Emocional - Comportamentos Impulsivos
  • Outros Transtornos Mentais e Comportamentais Devidos ao Uso de Múltiplas Drogas e ao Uso de Outras Substâncias Psicoativas

 

 

"Como tem uma base técnica e teórica, o juiz vai ter de instaurar [um processo de incidente de insanidade mental, que vai analisar de forma independente a saúde mental do acusado]. Instaurado, suspende o processo que julga o crime e vai andar o processo de insanidade mental", diz Penna.

 

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Comportamento debochado de acusado

 

Leonardo está preso desde o dia 3 de agosto. O crime aconteceu no dia 24 de julho, mas o corpo de Nilza só foi encontrado uma semana depois, quando vizinhos desconfiaram do sumiço dela e acionaram a polícia.

O comportamento dele no momento da prisão chamou a atenção pela forma debochada que ele confessou o crime, dizendo que agiu por vingança e não estava arrependido.

Leonardo Silva, de 18 anos, foi preso preventivamente pela morte de mulher em Barretos, SP — Foto: Reprodução/EPTV

Leonardo Silva, de 18 anos, foi preso preventivamente pela morte de mulher em Barretos, SP — Foto: Reprodução/EPTV

 

O que diz o laudo?

 

Em seu parecer, Hewdy Lobo Ribeiro diz que a avaliação das informações prestadas por Leonardo e pela mãe dele leva ao entendimento psiquiátrico forense e psiquiátrico jurídico de que o acusado apresenta transtornos mentais graves, enquadrando-se na população que necessita de cuidado e tratamento em saúde mental e física.

 

"Leonardo, por meio do conjunto de informações analisadas, tem diagnósticos psicopatológicos graves, que repercutem diretamente em sua qualidade de vida, inviabilizando a manutenção de saúde devido às características de personalidade e a dependência química não tratadas", diz trecho do laudo.

 

O documento também indica a necessidade de Leonardo realizar tratamentos médicos e psicológicos intensivos.

 

"[...[ a ausência destes [tratamentos] leva a riscos importantes, como de suicídio, novas agressões graves a terceiros e limitações para o aproveitamento educativo do recolhimento [...]".

 

A equipe médica analisou o histórico de saúde física e mental de Leonardo na infância, na adolescência e na vida adulta.

Durante a entrevista aos especialistas, o acusado chegou a afirmar que manteve um relacionamento sexual com Nilza em janeiro de 2023.

Na quinta-feira (19), a Justiça determinou a quebra de sigilo telefônico de dois telefones celulares, do réu e da vítima.

 

Laudo indica sintomas de mais dois transtornos

 

Além dos três transtornos apontados (de personalidade esquizoide, de personalidade com instabilidade emocional - comportamentos impulsivos e transtornos mentais e comportamentais por uso de drogas), a equipe que avaliou Leonardo também incluiu no laudo médico o diagnóstico de outras duas condições clínicas:

 

  • Transtorno Afetivo Bipolar
  • Transtorno de Personalidade histriônico

 

Segundo os especialistas, no entanto, em avaliação transversal, esses transtornos tiveram sintomas reconhecidos, mas não completam os critérios objetivamente.

 

O que acontece agora?

 

Se aceito o pedido de incidente de insanidade mental feito pela defesa à Justiça, o processo que investiga a morte de Nilza é suspenso e a Justiça nomeia um perito judicial para reavaliar o comportamento de Leonardo e fazer novos exames.

O médico responsável pelo laudo apresentado pela defesa também deve acompanhar esta nova avaliação.

Penna explica que, se o perito judicial chegar à mesma conclusão que o perito indicado pela defesa, o acusado pode ser encaminhado para um hospital psiquiátrico. Caso contrário, o processo sobre a morte de Nilza volta a ser julgado.

 

"Pode ser que a conclusão seja convergente ao que o nosso perito falou. Se for convergente, internação no hospital psiquiátrico. Se for divergente, aí o processo anda e ele vai acabar sendo responsabilizado no final. Todo jeito, ele vai ser responsabilizado e encaminhado para a medida de segurança".

 

 

Polícia diz que morte foi planejada

 

Segundo o delegado Rafael Faria Domingos, responsável pelo inquérito, Leonardo teria agido por vingança quando matou Nilza.

A investigação apontou que, em maio deste ano, ele foi morar nos fundos da casa da vítima, que tinha se proposto a ajudá-lo depois que ele se apresentou a ela como travesti.

Ela o contratou para fazer serviços domésticos depois que ele pediu demissão do emprego anterior.

Ainda segundo o delegado, o combinado foi desfeito porque Leonardo acabou não correspondendo às expectativas de Nilza.

 

“Ele alega que o crime foi uma vingança, porque ele teria abandonado um emprego anterior para trabalhar na casa da vítima, como serviços domésticos. O combinado acabou sendo desfeito, porque a vítima disse que ele não tinha compromisso e o dispensou. Ele ficou sem o emprego anterior, sem lugar pra morar e ficou com muita raiva e começou a planejar a morte dela.”

 

Leonardo Silva, de 18 anos, foi preso em Frutal (MG) como suspeito pela morte de mulher de 62 anos em Barretos (SP) — Foto: Divulgação/ Polícia Civil

Leonardo Silva, de 18 anos, foi preso em Frutal (MG) como suspeito pela morte de mulher de 62 anos em Barretos (SP) — Foto: Divulgação/ Polícia Civil

Leonardo, que é de Planura (MG), chegou a deixar Barretos após ser demitido por Nilza, mas voltou à cidade no dia 22 de julho e passou a sondar a casa da vítima.

Na madrugada do dia 24 de julho, ele pulou o muro do imóvel e ficou escondido em um quarto nos fundos. Quando o dia amanheceu, surpreendeu Nilza no cômodo e a matou por asfixia com um fio.

Policial suspeitou de terra remexida no quintal de casa de Nilza Costa Pingoud, em Barretos, SP, e encontrou corpo da vítima — Foto: Reprodução

Policial suspeitou de terra remexida no quintal de casa de Nilza Costa Pingoud, em Barretos, SP, e encontrou corpo da vítima — Foto: Reprodução

 

Dinheiro da vítima foi gasto após o crime

 

A polícia também identificou que Leonardo teve tempo de obter dados bancários da vítima para fazer compras. Uma moto chegou a ser comprada para ser entregue em um apartamento que ele tinha alugado em Barretos com o dinheiro de Nilza.

No entendimento da Polícia Civil, a maior motivação do acusado foi financeira. Ele ainda comprou eletrodomésticos e deu de presente à mãe, que era amiga de Nilza.

Durante a investigação, a polícia descobriu também que Leonardo procurou quatro conhecidos e ofereceu a eles R$ 20 mil no total, dinheiro que também era de Nilza, para ajudá-lo a se livrar do corpo.

A oferta, no entanto, foi recusada por todos eles, e Leonardo teria usado uma arma para ameaçar uma dessas pessoas.




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